Depois de passar alguns anos procurando o “bom senso”, o eleitor, desde 2018, está aberto a apoiar e votar em candidatos(*) de perfil mais definido. Ou seja, se antes o bom era ser um “candidato de centro”, hoje o bom é ser um candidato(a) com posições firmes e corajosas, com plataforma política e discurso claro.

É especialmente importante entender que houve no Brasil uma emergência da classe C na política. Este eleitor, que antes seguia a onda, agora tende a definir rumos. Além de posicionamento franco e objetivo, ganhar sua simpatia exige linguagem direta e uma imagem de quem, ao mesmo tempo, quer vencer e quer ajudar os outros a vencer.

Basta ver que concorrentes individualistas nunca se dão bem diante do público em nenhum reality show. Os que fazem sucesso carregam histórias de superação, especialmente as que são realizadas de forma colaborativa. Ou seja, o candidato precisa defender o seu lado, mas também tem de entender que é preciso fazer alianças e ajudar quem precisa de ajuda para chegar lá.

Também temos uma forte presença das pautas racial, mulheres, juventude, povos originários, e todos demais nichos que constituem grupos/movimentos em luta por seu espaço social e político. São parte da luta política geral, que destacam suas bandeiras e merecem atenção.

Os conselhos e orientações a seguir tem como base estas preocupações. Muitos são óbvios, mas todos são igualmente importantes.

POSICIONAMENTO – Fale em primeiro lugar ou em último. Normalmente, são os discursos mais lembrados. Principalmente o último, se os ouvintes já não se cansaram demais.

TEMA – Se não falar em primeiro lugar, faça uma abordagem diferenciada ou simplesmente mude o tema, fale de outro assunto. O orador que repete os outros é um chato.

AUDIÊNCIA – Melhor que ser aplaudido é ser lembrado. Aplausos às vezes acontecem apenas como pontuação de um discurso. O eleitor aplaude porque o orador gritou num tom mais alto. Se, invés de aplaudir, a plateia escutar, o orador ganha o dia.

DIÁLOGO – Não grite. Converse com cada um do público.

REPETIÇÃO – O importante é o que as pessoas compreendem, não o que você diz. Para garantir que as pessoas compreendam o que você quer dizer não tenha medo de simplificar a mensagem ao máximo e repetir muitas vezes.

BANDEIRA – O político precisa tornar-se dono de um tema, de uma bandeira na cabeça do eleitor. Brizola = educação, Lula = justiça social, FHC = privatização, Rigotto = bom senso, Yeda = déficit zero. A propriedade do tema permite construir um castelo, uma fortaleza, um território próprio.

TERRITÓRIO – Dois políticos não ocupam o mesmo espaço, o mesmo território na cabeça do eleitor. Quando um entra, o outro tem de sair.

CALENDÁRIO – A postura do candidato, o discurso, o tema, a agenda, estão cercados pelo calendário eleitoral. Cada etapa da campanha exige uma postura própria, um discurso, um determinado posicionamento. Se você fizer um discurso de reta final logo na largada, o eleitor vai achar que você está meio doido.

DUALIDADE – Campanhas majoritárias quase sempre se tornam uma disputa entre 2 candidatos, 2 temas, 2 agendas, 2 discursos. Candidatos proporcionais precisam escolher sob qual tema majoritário vão buscar votos. A arte de buscar votos sem posicionar-se na disputa geral é difícil e perigosa.

OPOSIÇÃO – Em geral, o discurso do segundo lugar está determinado pela agenda do primeiro.

SUB-TEMAS – Cada tema de campanha precisa ser desdobrado conforme a realidade, o público, o momento. A mesma abordagem para públicos e momentos diferentes pode passar a ideia de inconsistência política ou mesmo falsidade.

VÍRUS – Uma campanha ganha consistência quando as pessoas passam a reproduzir o seu discurso no seu círculo de relações.

TEMPO – Pior que falar pouco é falar demais. O discurso precisa ser contundente.

RENÚNCIA – É preciso renunciar a alguns temas quando se quer estabelecer uma marca. Quem fala sobre tudo não diz nada.

SIMBOLISMO – Para destacar qualidades do candidato, é preciso atribuir uma palavra, um gesto, uma história.

SINCERIDADE – Pontos fracos podem ser admitidos no momento certo e isso ser visto como positivo pelo eleitor.

SINGULARIDADE – O eleitor seleciona as mensagens que particularizam cada candidato. Ofertar singularidades atrativas é chave numa eleição.

FIRMEZA – Não se pode definir o que pensa o eleitor. O candidato deve manter-se firme mesmo diante de um eleitor instável.

AVALIAÇÃO – Os apoiadores nunca vão dizer que o candidato foi mal. Isso amplia o erro. É preciso escolher alguns assessores de bom senso para dizerem a verdade.

FRACASSO – O político tem a obrigação de dizer, de liderar, de apontar caminhos. Para não fracassar, é preciso sempre ter uma história para contar.

MENSAGEM – A mensagem que o eleitor leva é a mais interessante. Se o eleitor for maltratado por um assessor, não adianta você fazer um bom discurso. A mensagem que fica é a que marca.

PERMANÊNCIA – O sucesso do discurso depende do momento em que é feito, da coerência com seu tempo. Um discurso pela democracia nos anos 70 era algo marcante; hoje tende a ser visto como algo de menor importância. Encontrar o discurso de seu próprio momento histórico é chave para permanecer na cabeça do eleitor.

TESTEMUNHO – Apoios só acontecem quando o eleitor “compra” o candidato. “Esse é bom porque eu sei, eu conheço”. O testemunho é sempre o melhor panfleto.

HORIZONTALIDADE – O eleitor quer ser ouvido. O candidato precisa controlar sua angústia por passar sua mensagem e colocar-se à disposição. Precisa ouvir o eleitor. Encará-lo de modo horizontal e não vertical.

IMPORTÂNCIA – Em geral, as pessoas que escutam são mais importantes que as que falam.

PROPOSTAS – O que as pessoas querem de fato é educação, escolas são só o local para ter isso; saúde, e hospitais idem; segurança, não necessariamente aumento do número de policiais; mobilidade urbana,  que muitas vezes não é sinônimo de asfalto….. Conseguir apresentar suas propostas compreendendo o que as pessoas querem é um passo para construir uma identidade.

FALAÇÃO – O candidato deve contar histórias interessantes. Evite ser chato, discursivo ou pedante.

FASES – No meio da campanha, a candidatura deve estar lançada. Quem ainda se apresentar como candidato a essa altura é porque não fez o dever de casa.

MÍDIA – Os meios de comunicação são, sempre, atores políticos poderosos numa campanha. É preciso dominar o papel de cada um, mesmo quando você for candidato proporcional. Se o jornal te apoia, vai colocar teu anúncio numa boa posição. Se não, vai colocar onde der.

ATENÇÃO – A mensagem não pode apenas ser boa, ela precisa chamar a atenção do eleitor.

CONVENCIMENTO – Para convencer o eleitor, primeiro o candidato e seus apoiadores devem estar convencidos.

DINHEIRO – Votos trazem dinheiro e dinheiro traz votos. O candidato deve saber gerenciar as duas vertentes de modo a fortalecê-las.

EXÉRCITO – Uma eleição é uma guerra cuja meta é construir o exército mais forte, mais poderoso e organizado, até o dia da votação. O candidato, como líder do exército, quando consegue sair do “eu” para o “nós” de modo verdadeiro, em geral amplia apoios e simpatizantes.

HISTÓRIAS – O candidato deve se apoiar em histórias de vida reais para se comunicar. Exemplos abstratos em geral geram distanciamento.

LINGUAGEM – Candidatos devem evitar uma linguagem difícil. Mas também não precisam cair no popularesco.

SERIEDADE – O pior que pode acontecer é o candidato passar a ideia de que não está levando a sério a sua candidatura. O candidato ganha votos e apoios quando passa a ideia de que sua eleição é questão de “vida ou morte”, é decisiva para a garantia das bandeiras etc.

MENSAGENS – Em campanha, é sempre mais produtivo apresentar propostas diretas, claras, objetivas.

PROMESSAS – O eleitor não vota no passado do candidato. O passado é importante, como mostra de capacidade. Mas o eleitor vota no que o candidato tem a ofertar de futuro. A pergunta é sempre: “Mas o que é que tu promete pra gente?” Claro, você pode até combater o termo “promessa” e usar outro; o que você não pode é querer ganhar votos projetando apenas o seu passado político, porque o eleitor vota projetando o futuro de vocês dois como eleito e eleitor.

CANDIDATO – O candidato é um ser solitário, insubstituível. Pode andar rodeado de gente, mas nenhum é como ele. E não adianta mandar representante – é o candidato quem tem de assumir os compromissos. Porque o voto é na pessoa.

CARISMA – Se o candidato tem carisma, é preciso usá-lo. Se não tem, trate de inventá-lo. Uma campanha para dar certo precisa ter “charme”, “encanto”, “magia”. Isso em geral é obra do carisma do candidato.

CONVOCAÇÃO – A regra de só convocar uma coletiva à imprensa quando você tiver um assunto muito importante para divulgar vale em campanha. Você está em guerra. Só convoque apoiadores e militantes quando tiver algo novo e importante para dizer.

VITÓRIA – Se o candidato pensa e atua como um derrotado, é muito difícil que saia vitorioso.

INTERNET – Todos querem uma campanha na internet como Barack Obama, ou como Bolsonaro, mas ninguém quer investir como eles. Aprenda a usar essa ferramenta e compreenda seu potencial e seus limites.

ROUPAS – Em campanha, vista-se como se todo dia fosse domingo. O candidato está em permanente análise e julgamento. Seja em campanha sempre a melhor versão de si mesmo. Procure apresentar a todo instante a sua melhor imagem.

PROFISSIONALISMO – Aceite todo e qualquer apoio político. Mas tenha muito cuidado com serviços amadores que lhe são ofertados. Uma foto amadora, uma marca mal feita, um panfleto equivocado feitos pelo filho de um amigo podem perder muitos votos.

PLANEJAMENTO – Se você fez um planejamento, procure segui-lo. E garanta seu desenvolvimento por toda equipe de campanha. Pior que um planejamento errado é não ter planejamento nenhum. Campanha sem planejamento em geral é campanha derrotada.

INVENTE – Na dúvida sobre o que e como fazer, faça do seu jeito. A criatividade numa campanha é quase sempre resultado das soluções que o candidato encontra para resolver os problemas. É como na guerra: o diferencial está nas soluções e nas táticas que ninguém pensou antes.

(*) Candidatos, candidatas e candidates. 

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